Como fortalecer o movimento feminista negro e popular?

Depois de três anos vivendo juntas experiências que fortaleceram a organização do movimento de mulheres negras e populares no Norte e Nordeste mais de 20 mulheres se reencontraram em Recife para mostrar ao mundo que a auto-organização é o que de mais radical as mulheres podem fazer para enfrentar tudo aquilo que as oprime e explora.

Neste momento, em que o campo progressista no Brasil enfrenta enormes desafios organizativos, a CESE (Coordenadoria Ecumênica de Serviço) e o SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia, promoveram, através de um grande reencontro de militantes e ativistas, um debate sobre o fortalecimento do movimento negro e popular das mulheres. Elas estavam no Recife para o lançamento do livro que sistematiza as experiências de mais de 82 organizações do Norte e Nordeste nos últimos três anos.

Apesar de todas dificuldades políticas que enfrentam, de 2015 a 2017, o movimento de mulheres negras e de setores populares cresceu. Em 2015, grandes mobilizações de mulheres ocorreram em Brasília: Marcha das Margaridas, com mais de 70 mil, e a Marcha das Mulheres Negras, que reuniu cerca de 30 mil. Estas manifestações demonstraram a força destas mulheres unidas em resistência não apenas para a população brasileira, mas principalmente para o próprio movimento.

A publicação documenta várias organizações que foram criadas como resultado desse processo: tanto articulações locais, como a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e a Rede de Mulheres Negras do Rio Grande do Norte; como também redes regionais, como a Rede de Mulheres Negras do Nordeste e a Rede Fulanas, que reúne várias organizações da região norte.

Parte desse processo foi amparado pela ação que deu apoio a diversas estratégias desenvolvidas e propostas pelas próprias mulheres das organizações apoiadas, que também participaram de processos de formações, atos, diálogos, seminários e outras atividades públicas. Foram apoiadas organizações, grupos não formais, coletivos, fóruns e iniciativas de mulheres em grupos mistos do Norte e Nordeste do campo e da cidade. Para uma das coordenadoras do projeto, Silvia Camurça (SOS Corpo), a auto-organização é o que de mais radical as mulheres podem fazer para enfrentar tudo aquilo que as oprime e explora.

A proposta do livro é difundir o conhecimento produzido por e sobre estas mulheres, além de suscitar o debate sobre os desafios para sua permanência e protagonismo na arena política brasileira. A publicação dá voz às participantes-sujeitos por diferentes caminhos: na forma de textos autorais, pensamentos colhidos nos debates e que integram a elaboração construída pelas companheiras de diversas organizações que se dispuseram a ser co-autoras. Elas, mulheres quilombolas, indígenas, pescadoras, trabalhadoras rurais, pescadoras, marisqueiras, quebradeiras de coco, artesãs e militantes urbanas da periferia,  também escrevem poesias, músicas e relatam do seu próprio jeito sobre o feminismo e contam sobre as práticas e estratégias de ativismo que praticam.