Comunica GRUMAP lança o podcast Julho das Pretas

Com apoio do Programa de Pequenos Projetos da CESE, o Grupo de Mulheres do Alto das Pombas (Grumap) produz conteúdo com o tema Mulheres Negras no Poder Construindo Bem Viver

Um podcast produzido por e para mulheres negras, falando sobre bem viver, saúde, direitos, corpo e memória, cultura da infância entre outros temas. Este é o Grumap Comunica, o podcast produzido pelo Grupo de Mulheres do Alto das Pombas (Grumap) e que, junto com o jornal impresso do coletivo, são um importante canal de comunicação da organização com o Alto das Pombas e demais comunidades. A iniciativa conta com o apoio do Programa de Pequenos Projetos da CESE e a edição 2022 terá lançamentos até 16 de dezembro. Um café da manhã marcou o lançamento dos produtos no dia 15 de julho, na sede do coletivo.

O objetivo do Grumap Comunica é promover um canal de comunicação no Alto das Pombas e outras comunidades, com debates culturais, raciais e de gênero, além de ser um espaço de ampliação do alcance dos conteúdos das formações, bem como estratégia de mobilização para as atividades do grupo. Fruto de encontros continuados para discussão dos temas, produção de conteúdo e elaboração das pautas, gravação do podcast e editoração do jornal, tanto o podcast quanto o jornal aproximam as mulheres do Alto das Pombas de discussões sobre cidadania e do bem viver na cidade.

Produzido a cada dois meses, o jornal é distribuído nos espaços públicos como escolas municipais, posto de saúde do bairro, nas áreas como Praça Nossa Senhora de Fátima e ruas do Alto das Pombas. Já o podcast fica disponibilizado no Canal do Grumap no Youtube, onde é possível acessar programas anteriores.

Grumap 40 Anos – Ao longo dos seus 40 anos de existência, o GRUMAP sempre esteve comprometido com o trabalho na fundação de outros mundos possíveis, enfrentando o racismo e o capitalismo com responsabilidade social. Desde 1982, ainda nas primeiras atividades, a comunicação se mostrou estratégica para o desenvolvimento do trabalho. “Desde suas primeiras atividades, as participantes compreenderam a necessidade de aproximação com as demais mulheres negras do território, através de peças simples de comunicação, como o uso de panfletos, em seguida carro de som para fazer convocações para oficinas, processo de formação e demais eventos”, explicou a integrante Rita Pereira Santa Rita.

E foi assim, que com o passar do tempo nasceu o Jornal Comunica Grumap, falando sobre o território, buscando trazer leveza, prazer para as leitoras, além de estar próximo da realidade de seu público e falar daquele contexto. “A gente avalia e faz autocrítica. Nos primeiros jornais, a gente sentiu uma linguagem pesada. Nos últimos dois anos, a gente vem qualificando toda a formatação. Em paralelo a isso, na pandemia, a gente percebe que as mulheres estão se comunicando mais via Whatsapp e por isso, a gente estruturou os podcasts como uma mídia atual, para chegar mais facilmente nas mulheres da comunidade” acrescenta a ativista.

O podcast vem permitindo o alcance e a disseminação com agilidade, seja nas escolas públicas do bairro ou entre as trabalhadoras dos salões de beleza da região e demais estabelecimentos comerciais. E a nova mídia também foi uma alternativa importante, no momento de isolamento social, quando a distribuição do jornal impresso não era viável.

Outra mídia adotada pelo grupo foi o uso do carro do som, transmitindo informações, divulgando eventos e compartilhando informações, como uma estratégia de mobilização eficiente no território. A comunicação veio das necessidades identificadas pelas integrantes do grupo, que foram identificando os modos de fazer, do que fazer e os meios mais adequados para falar com o público. “Foi muito mais a partir do conhecimento e do processo de articulação das mulheres em comunicação entre si. Um processo que vem acontecendo entre as jovens com as mais velhas. E esse processo tem dado certo”, explica Karine Damasceno Eloy, integrante do Grumap. Ela acredita que ter utilizado essa ferramenta por tanto tempo criou as bases para que, atualmente, a linguagem do podcast pudesse ser reconhecida como acessível e oportuna para o compartilhamento de informações na comunidade.

Bem Viver – Muito dos conteúdos da comunicação expressam filosofia africana. “Em alguns momentos, enfatizamos muito o Sankofa, que para nós, é passado, presente, futuro e bem viver. Que para a gente está acima de tudo. Para nós, é importante seguir os passos das ancestrais: entender que elas começaram e resistiram diante de processos e desafios, que continuam ainda para a gente hoje. Então, quando a Grumap levanta as suas bandeiras contra o genocídio da Juventude negra é projetando um outro marco civilizatório, no qual o racismo não impere. Quando defendemos educação, saúde e saneamento e o bem viver, entendemos que a gente está fazendo essa construção, parte do processo histórico” acrescentou Karine.

Rita se recorda de uma das fundadoras do movimento e de suas crenças que permaneceram no fazer do grupo: Dona Alberta. “Ela nos dizia que iria fazer uma revolução. Hoje a gente não fala da revolução, mas fala do bem viver e entende que essas duas linguagens se aproximam. Uma está conectada com a outra. Desde o início da trajetória do Grumap, anunciamos uma nova ordem social, através do bem viver, fortalecendo cada passo dado com as juventudes, com as crianças”.

O tema do bem viver é transversal nas ações formativas da organização, envolvendo as atividades de teatro, no Cinearte, nas aulas de percussão com crianças e adultos, bem como nas aulas de corpo e memória, nas rodas de cuidado. Tudo costurado por uma perspectiva contracolonial e de compartilhamento das pautas de direitos de mulheres negras.

Qualidade de vida das mulheres negras – A qualidade de vida para as mulheres negras é uma pauta fundamental do grupo, que considera a defesa de direitos como algo inegociável e assim buscando viabilizar atividades com esse propósito.

“A gente acredita que a parceria da CESE com o Grumap vem da legitimidade, a representatividade, a importância política da organização como parte de uma construção desse projeto de sociedade. Desde a década de 80, houve momentos em que as lideranças sentaram e construíram um caminho comum. No momento dos processos de redemocratização da sociedade brasileira, quando estávamos mobilizadas na defesa da Constituição de 1988, como foi bonito!”, relembra a integrante do grupo.

Segundo Rita, “a CESE não hesitou em nos apoiar nos projetos de comunicação do Grumap, por entender que eles fortalecem o território, o grupo de mulheres e faz circular as suas informações sobre outros territórios”. A Grumap tem uma trajetória próxima com o Programa de Pequenos Projetos da CESE, iniciativa que existe há 49 anos, com o objetivo de fortalecer as lutas populares estimulando e apoiando pequenos projetos em todo o Brasil.