

Na zona rural do município de Palmas de Monte Alto, na Bahia, um território quilombola desenvolveu uma iniciativa que busca aliar a ancestralidade com o protagonismo das novas gerações num espaço cheio de saberes e sabores. É a Feira de Cultura, Educação e Agricultura Familiar do Quilombo Aroeira, que em junho deste ano envolveu toda a comunidade num dia de celebrações e partilhas.
Organizada pelo Grupo de Mulheres Mãos Aroeira, a feira é um momento de intercâmbio entre os territórios de identidade do Velho Chico e Sertão Produtivo, e foi idealizada para contribuir com o fortalecimento da identidade quilombola e valorização da produção da comunidade.
“A feira surgiu com a ideia e objetivo de dar sustentabilidade, visibilidade e incidência à cultura dos nossos ancestrais com interface em educação, intensificando a implementação das leis nº 10.639/03 e nº 11645/08 para os nossos povos quilombolas. E, assim, também valorizar e fortalecer a agricultura familiar das nossas mulheres dos nossos povos originários”, explica Nelci Conceição dos Santos, coordenadora do grupo.
Protagonismo de mulheres e jovens


A programação da feira contou com diversas atividades, como oficinas temáticas, desfiles infantil e juvenil de beleza negra, concurso de dança afro, cine-debate e apresentações culturais de artistas da comunidade. Nelci explica que esses espaços também foram pensados para fortalecer a participação e o papel da juventude e das mulheres negras do território. Um dos momentos, inclusive, foi dedicado ao envolvimento das quilombolas na 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras, que será realizada em novembro em Brasília (DF).
“Essa feira veio alavancar o protagonismo da juventude e das mulheres negras, uma vez que essas são as sementes promissoras do nosso presente e futuro. Eles precisam se sentir parte integrante do meio”, destaca a coordenadora.
Para Nelci, o balanço da atividade é positivo, e o apoio da CESE, “foi pioneiro, foi o que abriu portas e horizontes”. No entanto, a quilombola chama a atenção para a necessidade de envolver mais apoiadores nas próximas edições, sobretudo do poder público.
“É um evento territorial que contempla as comunidades quilombolas e agricultores familiares em regiões vulneráveis com inúmeras políticas públicas de direitos negados. Por isso, precisa necessariamente de mais apoio e um olhar de respeito e atenção. Temos despesas a cobrir e não temos apoiadores”, aponta.
Próximos passos
Com uma história centenária de resistência, o Quilombo Aroeira tem desenvolvido diversas iniciativas de empoderamento e empreendedorismo comunitário, em especial a partir da economia solidária. Além disso, através da cultura e saberes tradicionais transmitidos ao longo das gerações, o território também celebra o seu legado de luta coletiva. É esse o espírito que marca a Feira da Alforria, que a comunidade agora se prepara para realizar em outubro. A atividade marca os 60 anos de falecimento da filha de Vitor Brito, um dos principais nomes do quilombo da história do Quilombo Aroeira.
“[Vitor Brito] foi uma pessoa livre escravizada que recebeu a carta de alforria, criando seu povo livre”, conta Nelci. “E, graças à oralidade da Bertolina, filha dele, foi possível a certificação de inúmeros quilombos em Palmas de Monte Alto e Riacho de Santana. Espero que muitas portas se abram para apoiar e dar sustentação a essa iniciativa”, completa a coordenadora.
Programa de Pequenos Projetos
Desde a sua fundação, a CESE definiu o apoio a pequenos projetos como a sua principal estratégia de ação para fortalecer a luta dos movimentos populares por direitos no Brasil.
Quer enviar um projeto para a CESE? Aqui uma lista com 10 exemplos de iniciativas que podem ser apoiadas:
1. Oficinas ou cursos de formação
2. Encontros e seminários
3. Campanhas
4. Atividades de produção, geração de renda, extrativismo
5. Manejo e defesa de águas, florestas, biomas
6. Mobilizações e atos públicos
7. Intercâmbios – troca de experiências
8. Produção e veiculação de materiais pedagógicos e informativos como cartilhas, cartazes, livros, vídeos, materiais impressos e/ou em formato digital
9. Ações de comunicação em geral
10. Atividades de planejamento e outras ações de fortalecimento da organização
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