Dia das mães: em tempos de pandemia, menos romantização, mais direitos

Nesse 10 de maio, dia que se comemora o Dia das Mães, a CESE convida a uma reflexão sobre a maternidade, tão romantizada quanto desprezada na nossa sociedade.  Em que pese a celebração da maternidade, mesmo em tempos de “normalidade”, ser mãe torna-se um fardo para mulheres trabalhadoras, quando não há creches para que suas crianças estejam bem cuidadas e seguras durante sua jornada de trabalho. Ser mãe torna-se um pesadelo para mulheres negras, quando choram a ausência de seus filhos mortos pelo braço armado do Estado. Ser mãe torna-se imensa dor e desamparo diante da violência doméstica que maltrata e mata suas filhas. A violência obstétrica, a pobreza, moradias precárias, o ataque a territórios tradicionais e o racismo institucional são outras violações de direitos que fazem da experiência concreta da maternidade um enorme desafio para tantas mulheres.

Se em tempos de normalidade, a vivência da maternidade é marcada pela falta de apoio dos homens, da sociedade e do Estado, em um país construído com base em profundas injustiças de gênero, raciais e de classe, nesse momento de pandemia de Covid-19, essa situação ganha contornos dramáticos. As necessárias medidas de isolamento e distanciamento social são inalcançáveis para as mães trabalhadoras informais, que precisam batalhar a cada dia o sustento de suas famílias. As mães trabalhadoras da saúde se expõem à contaminação, muitas vezes sem equipamentos de proteção adequados. Enquanto isso, os índices de violência doméstica contra mulheres aumentam assustadoramente no contexto de isolamento social. Com a convivência intensificada e os procedimentos de higiene e limpeza para evitar a contaminação pelo coronavírus, o trabalho doméstico fica mais exigente, assim como a atenção à saúde e os cuidados com crianças e idosos, tarefas que ficam quase sempre sob a responsabilidade das mulheres, muitas delas mães. A violência policial se intensifica, ceifando vidas negras nas comunidades periféricas e a violência no campo se agrava, fazendo tombar sem terra, quilombolas e indígenas. As noites insones das mães de filhos/as encarcerados/as agora são invadidas por novas imagens aterrorizantes em que eles/as podem estar doentes e serem confinados/as em contêineres.

As homenagens, as comemorações e as demonstrações de carinho são muito bem vindas no Dia das Mães. Afinal, celebrar é um modo de afirmar a vida!  Mas nesse ano de 2020, mais do que nunca, lembramos que a idealização do sacrifício, contida na célebre frase “ser mãe é padecer no paraíso”, traz em si muitas camadas de opressão e injustiça que precisamos enfrentar para construir uma sociedade verdadeiramente justa e democrática.

Nesse Dia das mães, nos solidarizamos com todas as mães que estão sofrendo os impactos da pandemia, nos colocamos ao lado das mães que estão trabalhando duro para que suas famílias e comunidades atravessem esse momento sombrio com dignidade, nos juntamos às mães que atuam nos movimentos populares para transformar o mundo, o que inclui necessariamente, transformar radicalmente a experiência da maternidade.