
O Conselho Ecumênico Baiano de Igrejas Cristãs ( CEBIC) realizou, no último sábado, 6 de setembro, uma vivência no Terreiro Ilê Axé Iji Omi Toloya, na cidade de Camaçari/BA. A iniciativa faz parte das ações que o CEBIC e outras igrejas e organizações baseadas na fé realizam no DIA DO UBUNTU. A ação consiste num “abraço simbólico” e numa manifestação de solidariedade e respeito pela diversidade religiosa.
Quem nos ensina sobre o Ubuntu são nossas irmãs/irmãos africanas/os. Significa “sou o que sou pelo que nós somos”. Não há existência possível se não reconhecemos a existência do outro e da outra. Ubuntu é o centro da convivência e da possibilidade de coexistência.
A CESE, como organização ecumênica, se somou mais um ano à iniciativa, reafirmando seu compromisso de fortalecimento da defesa de direitos, da laicidade do Estado e do “não” a toda forma de intolerância e de racismo religioso.
Terreiro Ilê Axé Iji Omi Toloyá: preservação e valorização da cultura afro-brasileira.

O Babalorixá Livramento, líder da comunidade, recebeu o grupo apresentando o trabalho realizado no território. Em seus 16 anos de existência, o Terreiro vem desenvolvendo ações de preservação da cultura afro-brasileira e do patrimônio material e imaterial das religiões de matriz africana na Bahia. Atualmente, a comunidade é composta por 57 filhos e filhas de santo.

Além da atuação cultural, o terreiro desenvolve ações de formação, cidadania e geração de renda no território, como a saboaria artesanal Dono da Terra, com a atuação de mulheres da comunidade, que se dedicam à produção de sabão de limpeza doméstica a partir de óleos e azeite de dendê reciclado; formação em escolas públicas sobre a importância do correto descarte dos óleos de cozinha para a proteção dos rios e mares; oficinas sobre hortas ancestrais e cultivos tradicionais, fitoterapia e segurança alimentar; apoio à juventude para a prática da capoeira; oficina de artesanato dos orixás, com vistas a fortalecer a cultura de matriz africana e a economia local; e doação de cesta básica para a comunidade.

Racismo religioso
Mesmo com todo o trabalho cultural e social, Baba Livramento apresentou relatos de racismo religioso sofrido pela comunidade e como a mesma resistiu, e resiste, à intolerância de outros moradores e moradoras do entorno. “O Réveillon de 2011 teve um gosto amargo para os filhos e filhas da casa de axé Ilê Axé Iji Omi Toloyá. Armado com um porrete, um homem invadiu o lugar e destruiu artefatos religiosos de valor inestimável. Acuado dentro de casa, onde se refugiou, o babalorixá José Livramento Júnior chamou a polícia, que deteve o agressor. Porém, enquanto a viatura estava a caminho, o estrago foi grande. Após ter destruído a casa dos santos, lugares dedicados a preces e rituais, o homem avançou furioso sobre um veículo Gol, de propriedade do babalorixá. Em seguida, destruiu completamente uma máquina de lavar, que ficava numa lavanderia fora da casa.” relatou Livramento. Além do ataque acima, o líder relatou casos de envenenamento de animais na comunidade.
“A história de vocês mostra por que estamos aqui: ninguém entra numa igreja para fazer isso, mas em locais de espiritualidades indígenas e de matriz africana, esses casos de intolerância e racismo são frequentes, porque as pessoas não respeitam o sagrado de outras tradições religiosas. Como cristãs, precisamos nos solidarizar e denunciar esses casos”, afirmou Sônia Mota, diretora-executiva da CESE e Pastora da Igreja Presbiteriana Unida – IPU.
Sônia também lembrou uma fala de Makota Celinha, presidente do CENARAB – Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira, que afirmou que quem precisa fazer alguma coisa e mostrar, através da prática, que não compactua com essas ações de ódio e de desrespeito, são as pessoas cristãs. ” Por isso que o CEBIC está aqui, para um abraço nesse terreiro, nessa comunidade de fé, como aliado no combate e denúncia aos racismos, um compromisso assumido a cada ano, em setembro, do Dia do Ubuntu, em respeito a outras espiritualidades.”, conclui a pastora.

No final da vivência, o grupo pôde apreciar a apresentação de jovens capoeiristas e celebrar o Dia do Ubuntu, ao redor de uma mesa farta e acolhedora. Na despedida, um abraço coletivo ao som de “Um abraço negro” encerrou a visita.”

O Dia do Ubuntu nos convoca a sair do círculo de ódio e intolerância e organizar um dia de abraço a um Terreiro. Como pessoas cristãs, não queremos a destruição de nenhum Terreiro. Da mesma forma, não aceitamos que nossa fé seja utilizada como argumento para perseguir qualquer fé. A melhor forma de romper com a intolerância é ir ao encontro.

O ato marca um firme testemunho do Amor de Deus em sua luta contra os fundamentalismos religiosos. Estiveram presentes na vivência:
– Igreja Presbiteriana Unida do Brasil
– Igreja Episcopal Anglicana do Brasil
– Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
– Igreja Católica Apostólica Romana
– Igreja Batista de Nazaré
– Comunidade da Trindade
– Centro de Estudos Bíblicos – CEBI – Bahia
– Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE