Encontro promovido pela CESE discute elaboração de projetos sociais com juventudes urbanas e estimula envio de projetos a edital

As juventudes são frequentemente reconhecidas pela sua força, identificadas pelo seu potencial revolucionário. “São o futuro”, dizem. Para Flora Rodrigues, da Articulação Nacional de Negras Jovens Feministas (ANJF), isso não é suficiente. As juventudes são protagonistas da realidade, estão repletas de sujeitas/os pensantes, capazes de propor e gerenciar projetos, soluções e alternativas.

“As políticas públicas não operam de uma maneira digna para o nosso povo. Somos sujeitas/os dessas problemáticas, tudo engloba o corpo jovem e periférico. E mesmo assim a mídia nos distancia muito desse lugar, numa lógica contraditória. Somos apresentadas/os só como ‘a pessoa que perdeu alguém por causa dessa realidade’, nunca como sujeitos/as do pensar as políticas públicas.”, afirma a jovem militante.

A fala de Flora marcou a “Oficina Virtual Juventudes Urbanas e Elaboração de Projetos Sociais”, realizada pela CESE nos dias 25, 26 e 27 de maio, com apoio de Misereor. Além de potente, ela dialoga com a proposta que foi o ponto de partida para realização do encontro: contribuir no fortalecimento de organizações e grupos de juventude urbana envolvidos na defesa de direitos através do tema da elaboração de projetos sociais.

Os debates partiram de provocações embasadas em desenhos elaborados pelos/as jovens participantes sobre seus sonhos e desejos de transformação para a juventude e no segundo vídeo da Websérie “Chão de Lutas”, “Juventudes das periferias construindo o Direito à Cidade”. O vídeo aponta as principais problemáticas e violações dessa parcela da população, como o genocídio da juventude negra, o racismo, a violência policial, a negação do direito à educação e a falta de serviços e equipamentos públicos.

Ao longo dos três dias, os grupos puderam trocar experiências a partir da sua atuação, debater os conteúdos da elaboração de projetos em seus aspectos políticos e teóricos e ainda realizarem exercícios práticos, com metodologias dinâmicas e lúdicas. Os pontos abordados por Vanessa Pugliese e Marcella Gomez, ambas Assessoras de Projetos e Formação da CESE,  também focaram nos elementos que devem compor esses projetos – desde a sua justificativa e atividades a serem desenvolvidas, passando por orçamento e dimensões de gênero e raça.

Um dos pontos fundamentais trazidos na Oficina é a reflexão política sobre a elaboração de projetos e sua relação com a busca coletiva por mudanças e transformações para a juventude. Assim, foram também debatidas a relação com realidade de cada grupo e território, reflexões sobre a origem dos recursos, as relações de poder e dificuldades de acesso à informação, que atingem especialmente grupos historicamente impactados pelas desigualdades sociais.

A atividade contou ainda com sistematização gráfica realizada por Monica Santana.

O encontro também foi uma forma de estimular esse segmento a enviar projetos para o edital “Juventudes e Direitos Digitais”, organizado pela CESE com o apoio de Pão para o Mundo/ Brot für Die Welt. O edital é voltado para as juventudes, com objetivo de apoiar projetos que respondam a problemas ou necessidades objetivas da juventude e sua relação com os direitos digitais. As inscrições se encerram no dia 17.

Ao todo, 20 projetos serão apoiados a partir do edital. Cinco deles, com um valor de até R$ 20.000 reais, destinados exclusivamente às propostas de organizações com ações de abrangência nacional. Os outros 15 projetos serão apoiados com valores de até R$ 15.000 reais, agora considerando as propostas de grupos, organizações, redes e articulações que planejam desenvolver ações mais regionais e/ou locais.

Oficina Juventudes Urbanas e Elaboração de Projetos Sociais

O encontro teve participação de 15 organizações, de oito estados do Nordeste e Norte:  Ilê Axé Torrun Gunan; Levante Popular da Juventude de Sergipe; Fruto de Favela; Filhas do Vento; União por Moradia Popular da Paraíba; Aliança de Batista do Brasil / Juventude @lternativa; Rede de Jovens Comunicadores Indígenas da Coiab; Movimento Organizado de Trabalhadores Urbanos; Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas; Grupo de Jovens Liberdade Já; Ilé Àṣẹ Ibà Oladeji Ìjíomi; Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas; Articulação Nacional de Negras Jovens Feministas; Juventude Ativista de Cajazeiras; e Associação Cultural Beneficente Revolution Reggae. Os grupos atuam com temas relacionados a território e moradia, cultura e arte, desencarceramento, comunicação, violência contra juventude negra e contra a mulher, indígenas nas cidades, religiosidades, dentre outros.

Taila Sena, integrante da Associação Cultural Beneficente Revolution Reggae, destacou as relações criadas e todo conhecimento abordado na oficina. “Pude aprimorar meus conhecimentos que não eram tão amplos em relação a juventude elaborando projetos, e pensar fora da caixinha nesse processo de construção. Eu e a associação vamos com certeza entrar em uma nova etapa, estamos ansiosos para colocar tudo que aprendemos em prática.”

João Vitor da Silveira Santos, também integrante do Revolution Reggae, afirma que a proposta do encontro dialoga com seu sonho. “O sonho que eu tenho é justamente isso que está acontecendo aqui agora: ter a juventude de vários espaços interligada, essa juventude participativa, porque eu acredito muito na capacidade de cada favelado, e também creio no fim deste sistema de exploração. A fé em acabar com a farra da burguesia é o que me move.”

Anderson Teles, integrante da Rede de Jovens Comunicadores Indígenas da COIAB, destacou sua identificação com vídeo da websérie “Chão de Lutas”. “Nós da Rede nos identificamos com o aspecto de se adaptar à realidade urbana, onde as oportunidades são mais difíceis de serem alcançadas. E enfrentamos essas questões nos unindo e ajudando os grupos de formas coletivas.”