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Enfrentamento ao racismo religioso é tema de evento com povos de terreiros e órgãos de justiça no Maranhão

Nas religiões de matriz africana, o Ipadê é um cerimonial direcionado para saudar os ancestrais e ritualizar sua importância para a comunidade. Seu nome vem da palavra em iorubá Ìpàdé, que significa reunião ou encontro. Os princípios desse ritual foram também a essência do “Ipadê Agenda Interinstitucional” – um encontro para fortalecer o respeito à cultura afro-brasileira e à ancestralidade dos povos das religiões de matriz africana.

Com o lema “Construindo estratégias de enfrentamento ao racismo religioso no Maranhão”, a atividade foi um espaço de escuta, reflexão e proposição de iniciativas conjuntas para incidir na proteção dos direitos dos povos de terreiros no estado. A ação foi realizada Coletivo Dan Eji e recebeu apoio da CESE através do Programa de Pequenos Projetos.

“A gente propôs o Ipadê porque o crescente do racismo religioso no Maranhão é muito grande e tende a se acirrar porque a gente tem um contexto político muito emblemático”, explica a Iyalorixá Jô Brandão, coordenadora-geral do Coletivo. “Nós temos muitos casos de racismo religioso e de desamparo jurídico dessas comunidades. A gente tem feito um papel de mobilização para a garantia de acesso à justiça desses grupos, especialmente às mulheres, que são as mais atingidas por essa violência”, completa.

Saídas coletivas para enfrentar o preconceito

Os dados sobre racismo religioso em todo o Brasil são alarmantes. Segundo o Ministério dos Direitos Humanos, só em 2022 foram 1.201 ataques em razão da religião, um aumento de 45% em relação a dois anos atrás. Diante desse cenário, o Coletivo Dan Eji buscou parcerias com instituições do sistema de justiça, como a Defensoria Pública Estadual (DPE-MA) e a Defensoria Pública da União (DPU-MA), e o apoio da CESE para a realização do projeto, “para que a gente pudesse construir ali caminhos junto a esses órgãos, junto aos terreiros e entidades governamentais de traçar estratégias na construção de uma rede de proteção a essas comunidades”, explica a Iyalorixá.

O evento, realizado em São Luís (MA) em novembro do ano passado reuniu cerca de 100 pessoas, dentre representantes das organizações e povos tradicionais, e contou com três dias de uma programação ampla e diversa. Entre painéis que debateram temas como iniciativas institucionais para promoção de direitos dos povos de terreiros, identidade, comunicação e memórias coletivas, o encontro também abriu espaço para feira de afroempreendimentos e atividades culturais. A síntese dos debates gerou 14 propostas interinstitucionais para serem implementadas junto aos órgãos de justiça e a construção de uma frente protetiva para centralizar esses encaminhamentos. Além disso, a frente busca produzir uma publicação com um relatório analítico sobre os casos de racismo no Maranhão para chamar atenção dos organismos nacionais sobre o tema.

Protagonismo do povo negro

Jô Brandão avalia que o sucesso do projeto se dá não apenas pelos seus desdobramentos, mas também por ter sido um processo onde os povos de terreiros puderam ser protagonistas na construção. “Isso que desafia as práticas das instituições de justiça e seu olhar racista diante das comunidades tradicionais”, pontua.

“Nosso papel de reafirmação de uma visão de mundo de matriz africana também faz com que a gente se imponha a modelos e metodologias prontas que nem sempre reconhecem nossas realidades. Então nosso intuito de trazer essa visão de mundo dentro das proposições políticas, dentro das nossas metodologias de trabalho, provoca também uma reflexão externa de que as instituições precisam se refazer nesse olhar junto aos terreiros, precisam se ressignificar nessa realidade de atuação com comunidades tradicionais que eu considero modelos organizativos e de sustentabilidade para o mundo. É preciso que os outros grupos nos olhem como portadores de um grande potencial. Isso nos demanda um grande desafio e um grande investimento de energia, porque a sociedade está acostumada a nos ver como subalternos. Então propor, construir, apresentar, contar é sempre um desafio para nós”, ressalta.

A Iyalorixá também destaca a importância do apoio da CESE nessa construção. “Apesar de ser um pequeno projeto, nós conseguimos fazer um grande evento, conseguimos mobilizar grandes parcerias, com grande visibilidade, com instituições importantes e estratégicas para essa relação. Para nós foi muito importante a CESE acreditar também na nossa atuação enquanto instituição pequena, muito nova, mas com um grande desejo de cooperação. A gente tem certeza que vai nos gerar novas relações, novas parcerias, visibilidade e estabelecimento de possibilidades de construção de caminhos com outras instituições”, ressalta a coordenadora.