Movimento de Mulheres Camponesas promove ações de fortalecimento das comunidades periféricas da Zona da Mata Leste Alagoana

Iniciativa apoiada pelo Programa de Pequenos Projetos da CESE, distribuiu 60 cestas básicas agroecológicas para comunidades periféricas alagoanas

Aliança entre o campo e a cidade para promover a autonomia financeira das mulheres camponesas e combater a fome nas comunidades periféricas urbanas. É o que fomenta o projeto DA LAMA AO FLORESCER: fortalecendo as bases, pós-enchentes na Zona da Mata Leste Alagoana, iniciativa idealizada pela MMC – Movimento de Mulheres Camponesas, contemplada no Programa de Apoio a Pequenos Projetos da Coordenadoria Ecumênica de Serviço. O projeto atendeu mais de 120 famílias, das quais 60 são das áreas urbanas e 60 mulheres da área rural.

O projeto visa fortalecer as bases com compra imediata da produção camponesa, através do fornecimento de 60 cestas básicas agroecológicas, pelo período de agosto a outubro de 2022, para comunidades periféricas da Zona da Mata Leste Alagoana. Desse modo, a iniciativa promove a autonomia financeira para as mulheres camponesas e valoriza suas produções, como também atende a demanda do público atingido pelas enchentes. As cestas básicas traziam, além de alimentos, kits de higiene pessoal com foco em absorventes ecológicos/reutilizáveis de pano. O MMC distribuiu as cestas nos territórios de Dom Helder em Murici, Zumbi dos Palmares em Branquinha, Assentamento Pe. Emílio April/Sítio Gordo em União dos Palmares, Orla Lagunar comunidade Muvuca e Congresso do Povo em Mac. A comunidade Muvuca fica localizada na orla lagunar maceioense e é uma das mais afetadas com os impactos da falta das política públicas por toda história de Maceió. Nesse território, as famílias vivem da coleta de lixo ou de catar o sururu da lagoa Mundaú – que com a poluição, tem desaparecido ou guarda contaminação.

“Acreditamos no esperançar, pois uma das maiores tristezas das companheiras com as fortes chuvas era ver suas produções não poderem ser levadas para as feiras, não serem doadas” revelou a coordenadora estadual do MMC, Edcleide da Rocha Silva, lembrando do duro momento após enchentes, em que as camponesas ficaram ilhadas e sem acesso aos veículos que transportam seus produtos para outras praças. “Na medida em que o projeto passa a acontecer, conseguimos transporte para buscar a produção nas bases. Desse modo, florescia da lama a alegria e a esperança nas mulheres. Era alimento sendo levado para quem tinha fome e, por muitas vezes, muito mais alimento que o quantitativo descrito no projeto” acrescenta a liderança.

Autonomia – Um dos objetivos do projeto foi fortalecer a autonomia entre as camponesas, através da comercialização de sua produção. Garantindo o escoamento dos produtos durante três meses, a iniciativa permitiu que elas tivessem condições para investir em melhorias. Edcleide conta que “muitas falavam no momento da entrega das cestas agroecológicas, que iam arrumar o galinheiro ou colocar tela na horta, ou coisas tão simples para si mesmas como comprar uma sandália, um vestido, remédios. O projeto foi semente de visibilidade dos trabalhos das camponesas e das ações de solidariedade entre campo e cidade, que valorizam a autonomia”.

Na perspectiva de autonomia, o projeto também criou espaços de discussão sobre produção de farinha coletiva, em Dom Helder, situado em Murici, bem como a retomada da casa lilás para fazer pão em Zumbi dos Palmares, no território de Branquinha. As mulheres também estiveram envolvidas em oficinas de doces e geleias em Gordo, em União dos Palmares.

O trabalho desenvolvido pelo MMC em Alagoas é longevo e muito anterior aos eventos climáticos recentes, bem como pela ação desastrosa de mineração e ausência de iniciativas emergenciais por parte do estado. “As ações empreendidas durante o projeto chegaram em um momento que era de muita fragilidade para o campo e para a cidade, ambos lugares em que nosso povo sofre com a falta de políticas e assistência. Nesse período além de incentivar e promover práticas da agroecologia nas bases, foi possível pisar o chão esquecido pelo estado, chão esse que como vimos nesse período era bastante manipulado pelas politicagens. Houve momentos de muita tensão em nossas ações, porém conseguimos fazer nossas rodas de conversas e distribuição, acreditando que a consciência crítica é um processo construído nas relações humanas” afirma a coordenadora.

A articulação com outros movimentos populares como MST, CPT, e MTD está sendo de extrema importância para incidência política no Estado e unificação das lutas, com a arrecadação e distribuição de roupas, cobertores e água para os mais necessitados nesse momento, além do apoio institucional do IFAL/Murici.

O MMC tem feito participações nos atos políticos em defesa das pautas democráticas e das lutas: ações nas feiras livres,  denúncias da falta de estradas, reuniões com secretários e prefeitos, participações em espaços de formações coletivas, além das reuniões focadas no planejamento, execução e avaliação do projeto e da mobilização de recursos para realizá-lo ou mesmo para criar condições para participação em eventos, tais como o Grito dos Excluídos, no mês de setembro.

As mulheres camponesas também marcaram presença no Congresso Nacional de Nutrição, realizado em outubro e estiveram dentro da tenda agroecológica, debatendo nutrição e saúde e trazendo a pauta da alimentação como direito. Entre os destaques das ações de incidência está a participação do movimento na plenária estadual e dos direitos das mulheres na Câmara dos deputados estaduais de Alagoas, em agosto.

Seminário sobre Feminismo Camponês Popular – O MMC Alagoas realizou o III Seminário de Feminismo Camponês Popular: “Camponesas em defesa da mãe terra e contra os impactos climáticos”, nos dias 21 e 22, encerrando as ações do projeto Da Lama ao Florescer. Dentro da programação, todo trabalho foi apresentado como uma mostra da produção camponesa por parte das bases atendidas pelo projeto, nesse momento as mulheres puderam fazer oficina para trocar saberes, e partilhar as sementes e as histórias.

Com uma programação diversa e rica de saberes, sabores e mística, a mesa de abertura em grande plenária contou com potentes falas de Graça Alves da Comissão Pastoral da Terra, Prof. Drª Alice  Araújo da Faculdade de Nutrição da UFAL, Luana Silva do Instituto Jarede Viana,  Andréia Albuquerque do Levante Feminista, Crísea Cristo Técnica do IFAL e militante do MMC, Elida Miranda do PT e Lucilene Santos do MMC. Na oportunidade, as companheiras reforçaram o comprometimento para com a organização coletiva em busca de nossos direitos, em especial contra os retrocessos destes últimos quatro anos, que afetaram principalmente as pessoas mais pobres e mulheres.

Parceria – A relação entre a CESE e o MMC se estreitou durante a pandemia, através dos encontros da iniciativa Doar para Transformar, (Giving for Change), apoiada pela agência da cooperação holandesa Wilde Ganzen, através do Ministério das Relações Exteriores. “Nós, na condição de convidadas, sempre estivemos acompanhando espaços de formação, aprendendo e compartilhando com nossas experiências. Nesse ano de 2022, com participando das formações de incidências políticas pudemos aprender e compartilhar um pouco mais de nossas ações, inclusive de poder participar do espaço que aconteceu no mês de junho, em Salvador”. Edcleide revela que foi nesse mesmo período que novamente Alagoas foi atingido por fortes chuvas. “Nossas bases ficaram ilhadas, perdendo a produção camponesa, enquanto as pessoas da periferia mal tinham onde se abrigar, quanto mais o que comer”. Foi nesse momento que a coordenação estadual do movimento passou a pedir apoio às diferentes organizações para empreender ações emergenciais de solidariedade. De caráter emergencial, Da Lama ao Florescer foi avaliado e aprovado pela CESE. “E foi dessa forma que aconteceu a parceria, uma fortaleza da trilogia de Organização, Formação e Luta”,  conclui a coordenadora.