Nota do Fórum Permanente de Negritude da Aliança de Batistas do Brasil

A Aliança de Batistas do Brasil vem a público manifestar seu repúdio aos atos de intolerância religiosa que têm sido praticados contra lideranças de terreiros de matrizes africanas, ocorridos recentemente no estado do Rio de Janeiro, mas que sabemos se tratar de uma prática histórica e recorrente em todo o país. Repudiamos esses bárbaros atos não somente por que se configuram enquanto crimes de ódio, mas por que defendemos o respeito e a liberdade religiosa para todas as pessoas e, por isso, buscamos “Celebrar a diversidade da vida e da humanidade em todas as suas formas, respeitando as diferenças e promovendo o diálogo”, tal qual consta no estatuto que rege a nossa instituição.

Desse modo, ao defendermos e celebrarmos a diversidade da vida, para além do direito à liberdade religiosa, reconhecemos os terreiros de matrizes africanas, sobretudo, os terreiros de candomblé, como instituições seculares voltadas para a luta e a resistência do povo negro no Brasil, preservando um riquíssimo legado cultural que tem o seu valor historicamente invisibilizado devido ao racismo institucional e, mais especificamente, ao racismo religioso, consequência direta do criminoso sistema escravagista brasileiro.

É também nosso dever reconhecer e denunciar que a perseguição e “demonização” dos cultos afro-brasileiros, outrora praticada pelo braço armado do Estado, a polícia, atualmente é orquestrada, incentivada e praticada, estrategicamente definida através de um projeto político de poder, por lideranças evangélicas de diferentes denominações, que se utilizam dos púlpitos, de canais de comunicação diversos e de assentos, principalmente, no poder legislativo, em âmbito, municipal, estadual e federal em diferentes regiões e com grande avanço pelo território brasileiro. Sim, são essas as pessoas que verdadeiramente têm as mãos sujas do sangue físico e simbólico derramado pelas pessoas adeptas das religiões afro-brasileiras. Nós, da Aliança de Batistas do Brasil, não coadunamos, sob hipótese alguma, com esses discursos criminosos!!

Assim, nos irmanamos na dor, mas, também na luta com as pessoas que têm a sua prática religiosa firmada nos cultos de matrizes africanas e apelamos às instâncias governamentais por decisões contundentes, marcadas por ações que protejam de forma eficaz o direito dessas irmãs e irmãos realizarem seus cultos e práticas publicamente, reparando também, dessa maneira, danos históricos e atuais intencionalmente perpetrados contra o povo negro no Brasil.