Painel Ecumênico “As igrejas na resistência aos cenários de golpe na América Latina” anima a fé do público do Fórum Social Mundial

Lotado, o Teatro do ISBA recebeu o Painel Ecumênico “As igrejas na resistência aos cenários de golpe na América Latina”, na manhã de 15 de março, em Ondina – Salvador (BA). Organizaram a atividade a CESE, Cáritas Brasileira, Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Conselho Ecumênico Baiano de Igrejas Cristãs (CEBIC) e Comissão Pastoral da Terra (CPT).

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A partir de uma leitura crítica, o intuito da agenda foi animar a fé e manter acesa a chama da esperança que resiste (ainda que em tempos difíceis), além de fazer ecoar o grito de todos os povos e todas as gentes massacradas no continente: indígenas, quilombolas, campesinos/as, juventudes de periferia.

Como Igrejas, como organizações inspiradas na fé, como pastorais, qual o nosso grito de resistência diante do cenário de golpes que vivemos na América Latina? Qual é a mesmo a razão da nossa fé? Qual o nosso grito de resistência profética?

Antes de dar início ao ciclo de respostas da mesa convidada, a vereadora e militante Marielle Franco foi homenageada. A vereadora do PSOL foi executada na noite desta quarta (14) no centro do Rio de Janeiro (RJ). “A divindade que cremos, com diversos nomes e rostos, que nos anima a seguir em frente. Cada sangue derramado em nossa fé nos faz brotar esperança para resistir”, coloca a pastora luterana Cibele Kuss, da coordenação do Fórum Ecumênico Brasil.

“Nós estamos vivendo o tempo da loucura e não da razão, como bem lembrou o Cacique Babau. Nós estamos em um tempo em que precisamos fazer formação de solidariedade”, avalia Cibele Kuss. “Deus e o diabo continuam juntos no trabalho de colonização. A colonização impera hoje com diferentes roupagens vozes”, pondera, ressaltando que só no Mato Grosso do Sul, 36 igrejas atuam em comunidades com intuito de converter indígenas. A pastora luterana também destacou que o Fórum Ecumênico Brasil sistematizou mil denúncias de intolerância religiosa só no ano passado.

O filósofo e teólogo católico Junior Aquino refletiu sobre a ação das pastorais sociais no processo de fortalecimento das organizações populares. “Vivemos nossa espiritualidade derrubando cercas, conquistando territórios, lutando por direitos. A espiritualidade se vive no dia dos luta por justiça, nas relações cotidianas”, afirma Aquino.

A abordagem sobre o avanço do pensamento conservador e de direito na América Latina foi traçada por Diego Irarrasaval, teólogo chileno do Fórum Mundial de Teologia e Libertação. “Em muitos diálogos com comunidades indígenas, vi uma analogia com abelhas, a capacidade que elas têm de seguir, contribuindo aos pouquinhos com grandes obras coletivas. E eu vejo que muitos indígenas, mestiços, afrodescendentes podem reconhecer-se como abelhas, que levam a beleza da esperança de uma flor para outra flor, portadores e portadoras da beleza. E o espírito que nós chamamos de Jesus, irmão, esse espirito esta nas formigas e nas abelhas”, anima os presentes o teólogo chileno.

“Os golpes não se fazem só com golpes e canhões. Esses golpes se arregimentam em discursos”, alerta a pastora da Aliança de Batistas do Brasil, Odja Barros, apontando diretamente que um desses textos que alimentam discursos conservador são as sagradas escrituras. “Precisamos nos apropriar desses espaços de disputa, discurso religioso é uma arma em toda a América latina. Nosso papel é enfrentar isso, ouvir a profecia das mulheres feministas, a igreja fora da igreja”.

Remetendo à fala de Odja, “ser igreja fora das igrejas” é uma forma de atuação profética sugerida pelo escritor, teólogo e monge beneditino, Marcelo Barros. “Odja falou na desconstrução do cristianismo. A gente fala, fala, mas convive muito bem com ele e acabamos sendo coniventes. Diplomacia não é e fé nem ecumenismo. Ecumenismo é assumir identidade da gente e ser capaz de conviver com o diferente. Faço um apelo para sermos mais proféticos, não sermos coniventes com clericalismo, autoritarismo. Igreja não pode ser só democracia, tem que ser comunhão. Essa dimensão do amor a gente não pode ter vergonha de testemunhar”. E sobre o cenário atual, sinaliza perspectivas. “Todos os golpes políticos de violência só podem ser vencidos com amor muito maior”, finaliza Marcelo Barros.