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Por Coordenadoria Ecumênica de Serviço

O INVISÍVEL

“Eis que

um ignorado poder

               mascarado de vírus

               fantasiado de peste

rodopia pelo universo

               gargalhando de outros poderes

               zombando de arrogantes senhores

               e desbancando mentiras tantas

pela terra que treme

pelo mundo que chora…” Ametista Nunes

Com esta poesia – O Invisível, Ametista Nunes abre o “Seminário Bem-Viver e Direitos Humanos”, realizado pela Abong (Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais) – Bahia e Sergipe, na tarde ontem (05/08).

O encontrou virtual reuniu dezenas de organizações e movimentos sociais do campo da defesa dos direitos e dos bens comuns para debater sobre o bem-viver e os direitos humanos, no atual contexto antidemocrático e epidêmico. O seminário contou com a organização de duas mesas para difundir ideias que circulam entre as instituições neste momento de crise, propor reflexões e apontar caminhos para a construção de um outro mundo possível.

A primeira mesa contou com a exposição dialogada de: Benilda Brito, coordenadora do programa de Direitos Humanos do Odara – Instituto da Mulher Negra e integrante Articulação de Organizações de Mulheres Negras; Maria Izaltina Santos, do Movimento Quilombola de Sergipe e líder comunitária do quilombo Brejão dos Negros – Brejo Grande (SE); e Paulo Vannuchi, membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e Ex-Ministro de Direitos Humanos do Governo Lula. No segundo momento do seminário, foram convidados/as para o debate: Renato Cunha, coordenador executivo Gambá – Grupo Ambientalista da Bahia e conselheiro do Conselho Estadual de Meio Ambiente (CEPRAM); e Rafaela Alves, pedagoga, educadora popular, e diretora nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).

Neste momento, em que o campo progressista no Brasil enfrenta enormes desafios organizativos, a Abong convidou suas associadas e entidades do campo popular para debater a construção de uma sociedade do bem-viver com os direitos da população plenamente garantidos. Para Débora Rodrigues, diretora executiva da organização e mediadora da primeira mesa, não há como dissociar essa alternativa de vida com os direitos humanos: “Não existe um sem outro. A lógica desses temas juntos traz a ideia de visão sistêmica do processo de vida plena, e das lutas das organizações da sociedade civil.”, afirmou Débora.

Benilda Brito abordou como o bem-viver resgata as formas ancestrais de gestão do coletivo e do individual, com respeito não só à natureza, mas também aos corpos das pessoas. Ela trouxe como provocações para o debate a afirmação da identidade negra e cosmovisão africana para construção de uma uma nova sociedade: “Bem-viver na cultura africana passa por muitos pilares que nos sustentam até aqui. É baseada em valores da ancestralidade, da corporeidade, da espiritualidade e da cooperação. Parte da concepção do coletivo. Eu sou estou bem se você estiver bem. Não posso estar tranquila se tem tanta gente passando fome, se muitos jovens negros estão morrendo e se a vida está sendo banalizada. Cotidianamente o povo preto pratica rituais de bem-viver”, declara Benilda.

No Brasil, o contexto epidêmico intensificou as desigualdades sociais, econômicas e raciais, relembra Benilda. Para a militante do movimento de mulheres negras, o racismo estrutural impõe à população negra a maior vulnerabilidade: “70% do óbitos são pessoas pretas e analfabetas, 30 milhões de pessoas sem acesso a renda básica, aumento de 70% da violência, o desemprego que assola de forma assustadora a vida mulheres negras,  e tantas outras violações de diretos humanos, econômicos, sociais e ambientais.”, exemplifica a integrante do Odara. Para ela essas questões só reafirmam a necessidade de ampliação e fortalecimento da luta antirracista no país.

Nesta mesma sintonia, Izaltina Santos abordou os processos de resistência das populações quilombolas. Para a líder comunitária, além da falta de políticas públicas e da carência de direitos fundamentais, as comunidades enfrentam novos desafios durante a pandemia: “Não há atuação do governo municipal e estadual. Não tem algo concretos, a alimentação não chega.” E completa: “Hoje, dentro do território, intensificaram-se os desmatamentos das áreas comuns, onde tiramos o nosso sustento. Precisamos proteger o bem comum e continuar lutando por nossos direitos.”, denunciou Izaltina que também é agricultura e pescadora.

Paulo Vannuchi participou da roda e trouxe o seu olhar sobre o bem-viver na conjuntura política atual. Para o ex-ministro do governo Lula, as temáticas estruturais de lutar contra o racismo, sexismo e o capitalismo estão diretamente ligada enfrentamento do neofascismo que se instalou no país: “Essa polarização é muito ruim para democracia. Não é possível promover o bem-viver enquanto Bolsonaro for presidente do Brasil.” comenta Vannuchi.

E conclui: “Centro da luta política nesse momento é contra pandemia. Acredito que o potencial revolucionário pujante do país vem da mulher e da igualdade racial. A elite segue escravocrata pós abolição. Os governos Dilma e Lula não foram governos de esquerda. Apostaram que todos poderiam ganhar e foram chamados de comunistas.”

No segundo momento, as falas dos/as convidados/as trouxeram mais luz às análises e contou com a mediação de Alex Federle do Nascimento, do Centro de Assessoria e Serviço aos/às Trabalhadores/as da Terra Dom José Brandão de Castro (CDJBC).

Em sua fala, Renato Cunha expôs críticas ao modelo de desenvolvimento econômico e exemplificou como a emergência climática, tempestades devastadoras, secas duradouras, insegurança alimentar e vulnerabilidade para os povos e comunidades tradicionais são provocados pelo modelo de sociedade que transforma tudo em mercadoria. Para ele, o Covid19 evidencia a necessidade de reflexão como essas ações se opõe ao projeto do bem-viver: “Talvez a pandemia mostre que o normal estava errado e nos faça pensar que novo normal a gente deseja. Precisamos pensar no pós pandemia a partir de outra relação de convivência, de economia e desenvolvimento. Não existe planeta B. E a questão dos direitos humanos está ligada diretamente a isso.”, comentou o coordenador executivo Gambá.

Por fim, Rafaela Alves, comungando com as mesmas preocupações e reflexões dos/as expositores/as do seminário, abordou a partir do seu campo de atuação, como o novo projeto de sociedade traz na essência a herança de luta e resistência de vários povos que lutam pela transformação. A integrante do MPA instigou as organizações presentes: “É preciso construir territórios de poder popular e ressignificar as estratégias, como o aprimoramento de ferramentas para que informação verdadeira chegue na população, a batalha de ideias, a consciência crítica e o senso de coletividade.”, analisou Rafaela.

Estiverem presente e participaram do debate diversas organizações da Bahia e de Sergipe, como: CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço; Plataforma MROSC; Centro de Estudos e Ação Social; Instituto Braços; Movimento Nacional de Direitos Humanos; Fórum DCA-SE; Comitê Sergipano Popular pela Vida; Sociedade de Apoio Sócio Ambientalista e Cultural; Associação de Moradores Residencial parque dos Carajás e adjacências; Odara – Instituto da Mulher Negra; Articulação de Organizações de Mulheres Negras Movimento Quilombola; Comissão Interamericana de Direitos Humanos; Gambá – Grupo Ambientalista da Bahia; Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA); Comitê Técnico Científico da Educação Popular em Saúde em Sergipe; Associação de Moradores Residencial parque dos Carajás e adjacências; Cáritas -SE; Associação Ação Social Professora Elizabete; ELO Ligação e Organização; Vida Brasil; entre outras.