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Projeto Povos indígenas e o Covid-19 realizado pelo FEACT busca aliviar sofrimento de indígenas brasileiros

 Por Kátia Visentainer


Entrega de cestas básicas e de higiene no Sul do Amazonas (Madeira) — Povos Tenharim,Parintitin,Jiahui

A pandemia afetou de maneira abrupta os povos indígenas do Brasil. Eles, que já vinham sofrendo um impacto violento do atual governo brasileiro, com a retirada de direitos e todo tipo de violações, se viram abandonados pelo Estado, sem políticas públicas que pudessem garantir a saúde e segurança alimentar em seus territórios.

O novo coronavírus avançou para o interior das aldeias indígenas e eles foram sendo contaminados massivamente. Sem políticas públicas, muitos deles têm dependido de ajuda da sociedade civil para sobreviver.

Neste sentido a Ajuda humanitária internacional da ACT Alliance contribuiu ao cuidado, proteção e resistência — especialmente dos povos indígenas da Amazônia. Com a coordenação no Brasil feita pela Coordenadoria Ecumênica de Serviço — CESE, envolveu a doação de cestas básicas e kits de higiene para diversas etnias da Região Norte, Centro-Oeste e Sul.

       Conheça o projeto

O projeto desenvolvido pela CESE colaborou para que estes povos indígenas permaneçam em seus territórios com segurança alimentar; contribuiu para garantia dos direitos desses povos e de sua permanência em seus territórios com seus modos de vida próprios, que incluem um jeito comunitário de conviver e compartilhar; e contribui para proteger e assistir a esses povos, que são particularmente vulneráveis à pandemia, como historicamente já ficou comprovado em relação a outras endemias das quais foram vítimas.

Entre os povos indígenas, os anciãos são suas bibliotecas vivas, guardiões da cultura, mais um motivo pelo qual estão com grande temor em relação ao Covid-19. Entre os indígenas em situação urbana, as mais vulneráveis são as mulheres, que mantêm suas famílias por meio da produção e venda de artesanato. Outro aspecto da proposta é a ação coordenada com organizações ecumênicas e outros parceiros de ACT no Brasil.

       Esse projeto foi realizado pelo FEACT

ACT Alliance é a maior coalizão de igrejas protestantes e ortodoxas e organizações relacionadas a igrejas engajadas em trabalho humanitário, de desenvolvimento e defesa de direitos em todo o mundo, consistindo em mais de 130 membros trabalhando juntos em mais de 120 países para criar mudanças positivas e sustentáveis ​​nas vidas de pessoas pobres e marginalizadas, independentemente de sua religião, política, gênero, orientação sexual, raça ou nacionalidade, de acordo com os mais altos códigos e padrões internacionais.

O FEACT- Brasil é formado por 23 organizações baseadas na fé cristã, entre elas, 7 igrejas e a organização parceira de ACT-Alliance. Há 18 anos o Fórum promove ações em defesa dos Direitos Humanos, da Democracia e do Estado Laico em uma perspectiva ecumênica e inter-religiosa.

A Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) foi a executora do projeto. Há 47 anos, a CESE atua na promoção, defesa e garantia de direitos no Brasil. E faz isso porque entende que a desigualdade e a injustiça ainda persistem. Criada por Igrejas Cristãs, tem a missão de fortalecer organizações da sociedade civil, especialmente as populares, empenhadas nas lutas por transformações políticas, econômicas e sociais que conduzam a estruturas em que prevaleça democracia com justiça.

A importância do projeto para os povos indígenas

A ajuda humanitária da Act Alliance foi importantíssima para apoiar a segurança alimentar de famílias indígenas com itens de alimentação e de higiene e garantir a permanência dos indígenas nos territórios (no caso dos aldeados) e para que os indígenas que residem em área urbana possam sobreviver durante a pandemia. Esta ajuda se soma a outras iniciativas, considerando a amplitude da população a ser atendida.

Ajuda humanitária internacional

Diante do terrível cenário enfrentado pelos indígenas brasileiros, o FEACT-Brasil acionou a ACT Alliance para uma ação emergencial de cuidado, proteção e resistência — abrangendo povos indígenas da Amazônia, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.

O projeto realizou a doação de 4.200 Cestas de alimentos e higiene, com investimento da ordem R$ 420 mil.

As cestas foram montadas de acordo com os itens de primeira necessidade como alimentos, produtos de higiene e álcool 70%.

Povos Indígenas Beneficiados

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Contribuição valorosa dos parceiros locais

A participação dos parceiros foi fundamental. Tanto para a identificação dos grupos mais vulneráveis, elegendo os beneficiários, como na estrutura de compras dos itens, montagem das cestas e sua distribuição.

A ajuda humanitária chegou em aldeias distantes, com a logística planejada detalhadamente pelos parceiros. Em alguns casos, foi necessária acionar a Funai e Exército para que pudéssemos chegar até as aldeias.

O nosso maior agradecimento a todos os nossos parceiros, que não mediram esforços para que a ação pudesse ser realizada.

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No Rio Grande do Sul, a parceria com Conselho de Missão entre os Povos Indígenas — COMIN/Fundação Luterana de Diaconia — FLD possibilitou que a ajuda humanitária chegasse até as famílias de comunidades Guarani.

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A Comissão Pró-Índio — Acre nos lembra, no vídeo abaixo, da importância que foi nos juntarmos para que a ajuda pudesse chegar até os povos indígenas:

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Como foi o processo?

O projeto atendeu 4.200 famílias indígenas pertencentes a 42 povos nos estados do Amazonas, Acre, Rondônia, Maranhão, Pará, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. A estimativa de número total de pessoas atendidas foi feita tomando a referência de medida para famílias no meio rural, média de 5 pessoas por família, o que daria 21 mil pessoas atendidas.

No vídeo abaixo, Marina Vilarinho, assessora do programa Povos Indígenas do Instituto Internacional de Educação no Brasil — IEB relata como foi o planejamento e a distribuição das cestas em parceria com a CESE.

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Confira os povos e número de famílias beneficiados na tabela abaixo

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A logística para entrega envolveu grande esforço dos parceiros, principalmente para chegar às aldeias mais distantes, e seguindo os protocolos de isolamento social e recomendações sanitárias.

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Entrega nas aldeias Juma e Itaparanã realizada pelo IEB em parceria com o Exército e a Funai.
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Entrega nas aldeias Juma e Itaparanã realizada pelo IEB em parceria com o Exército e a Funai.

A parceria com o IEB já vem de longa data, no vídeo abaixo a Marcela, assessora explica um pouco sobre isso e como foi essa ação:

Entrega de Cestas nas aldeias

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Cestas distribuídas pelo IEB
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Cestas distribuídas pelo IEB
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Entrega de cestas na aldeia Kanindé
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Tekoa Guajayvi (Charqueadas/RS) — COMIM
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Tekoa Irapuá (Caçapava do Sul/RS)- COMIM
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Tekoa Araçaty (Capivari do Sul/RS)- Comim
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Entrega em Manaus e entorno

A Voz dos Povos Indígenas Beneficiados

Dezenas de vídeos e depoimentos foram enviados pelos parceiros à CESE. Mais do que alimentos e produtos de higiene, a ação levou dignidade aos povos indígenas beneficiados com a mensagem de: NÓS NOS IMPORTAMOS COM VOCÊS.

Falando na língua indígena Wanano, mulheres indígenas da Associação de Mulheres Indígenas do Rio Negro — AMARN emocionaram a todos nós com seus agradecimentos.

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O indígena Turi Sateré Mawé, coordenador da COPIME — Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno faz um agradecimento especial à CESE e a ACT Alliance pela Cestas recebidas e nos fala um pouco sobre a situação dos parentes na sua região: a morte de muitos indígenas pelo Covid-19, o descaso da SESAI com indígenas que vivem na cidade e a falta de renda para indígenas que viviam do turismo e artesanato.

Assista:

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O indígena de Anaparium, coordenador do Conselho Indígena Tapajós-CITA agradece a colaboração da CESE e da ACT Alliance pelas ações humanitárias. E explica como a entrega de cestas básicas nas aldeias ajuda para que os indígenas não se desloquem para as cidades, evitando assim a sua contaminação pelo Covid-19.

Assista:

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Diversos indígenas, que receberam alimentos e kits de higiene através da parceria da CESE com a Associação das Mulheres Indígenas Sateré Mawé, enviaram seus agradecimentos no vídeo abaixo:

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Como foi para a Cese a realização deste projeto?

Para a CESE a ação foi de suma importância para aliviar o sofrimento de milhares de indígena no nosso país. A coordenadora da CESE, Sônia G. Mota, também falou sobre a ação humanitária.

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Sônia G. Mota — foto: Thomas Bauer

“Quando o estado de calamidade global nos atingiu com a chegada do COVID-19, foi necessário que a CESE redirecionasse seu olhar, seu agir e urgentemente tomasse decisões rápidas e buscasse meios para atuar de maneira a atender a esta emergência.

Ainda que a pandemia seja uma ameaça para a vida de todas as pessoas, ela impacta com muito mais força grupos e populações que já enfrentam as desigualdades sociais, econômicas e raciais e que vivem em constante vulnerabilidade: neste caso, em especial as populações que têm seus direitos básicos negados, cujo acesso aos serviços de saúde e saneamento, garantia do direito à alimentação e segurança alimentar já estão seriamente comprometidos.

Diante desta grave constatação e, já recebendo inúmeros pedidos de apoio para emergência, imediatamente dialogamos com o Fórum Ecumênico ACT-Brasil e, como membros da Aliança ACT, acessamos o Fundo de Resposta Rápida para Emergência Humanitária e logo recebemos resposta positiva. Esta ação solidária internacional foi de grande importância para alcançar populações que já enfrentam no seu cotidiano a falta de acesso a serviços básicos de saúde e saneamento e, que com o COVID-19 passaram a enfrentar situações ainda mais desumanas, sendo um dos maiores números de mortalidade.

Importante destacar que , se a solidariedade internacional possibilitou a compra de alimentação e itens de higiene e proteção, a atuação e solidariedade de parceiros locais foi fundamental para que esta ajuda chegasse nos territórios indígenas alcançando diversas etnias da Região Norte, Centro-Oeste e Sul.

Foi uma solidariedade de muitas mãos que contribuiu para o cuidado, proteção e resistência especialmente dos povos indígenas da Amazônia. Sabemos que ainda há muito o que fazer porque estamos enfrentando um governo negacionista e que não tem tomado as medidas necessárias para proteger a sua população. Por isso, continuamos atentas e buscando outros meios para continuar contribuindo para a proteção das populações indígenas junto com a APIB, COIAB e outras organizações dos povos indígenas.

Como organização ecumênica comprometida com a Diaconia pela Defesa de Direitos, sabemos que a solidariedade passa pelo cuidado com os grupos não alcançados por políticas públicas, mas também passa pela denúncia da omissão do Poder Público em nível federal, estadual e municipal e também pela exigência de medidas urgentes para garantir a vida digna das populações mais vulneráveis”.

Gratidão dos povos e parceiros

Recebemos inúmeros agradecimentos dos povos atendidos e das organizações parceiras ao apoio de ACT Alliance neste momento tão grave que passam os povos indígenas.

Resumimos toda gratidão na fala da Marina Vilarinho, assessora do programa Povos Indígenas do IEB.

Assista:

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A situação dos indígenas

A situação precária dos povos indígenas já acontecia antes da pandemia. A Fundação Nacional do Índio — Funai suspendeu ações assistenciais aos povos indígenas no mês de março deste ano.

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Indígenas protestam contra a falta de política contra a morte dos índios infectados. Foto:Reprodução

No mesmo mês lideranças indígenas denunciaram o descaso do Estado Brasileiro. De acordo com Alberto Terena, que é professor e representante da Aldeia Buriti, em Dois Irmãos do Buriti (MS) onde existem 4.500 indígenas, a paralisação do fornecimento de cestas implica em graves problemas para a comunidade.

“Desde o fim do ano a entrega foi paralisada. Já temos outras dificuldades como, por exemplo, a luta para ter o território por completo. Agora sem o serviço as famílias não tem como se manter. A falta das cestas deixou a situação ainda mais complicada.”, enfatizou. (via jornal Campo Grande)

Para a liderança guarani de Caarapó (MS), Otoniel Guarani, na comunidade existem aproximadamente 9 mil indígenas. Ele afirmou que a distribuição das cestas pararam em janeiro de 2020. Para ele o maior temor é que este cenário possa prejudicar a saúde da população indígena.

“Essa situação prejudica a saúde dos indígenas, que há três anos viveram graves problemas de desnutrição”, alertou. Ele ainda defendeu que Governo não pode cortar a distribuição de algo que é direito deles. “Além de afetar diretamente a saúde e algo que pode gerar violência”, finalizou. (via jornal Campo Grande)

Logo no início da pandemia no Brasil organizações e movimentos criaram diversas campanhas, para que os indígenas fiquem nas aldeias, evitando a contaminação. Uma das campanhas foi a Corpo Vivo Parente.

Assista:

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Mas a falta de políticas públicas que apoiassem os povos indígenas, para que pudessem ficar isolados nas aldeias, evitando que pessoas de fora adentrassem o seu espaço permitiu que o Covid-19 chegasse às aldeias, contaminando mais de 36 mil indígenas e levasse mais de 850 indígenas a óbito.

Quem são os povos indígenas no Brasil:

Acesse o material completo no MEDIUM da CESE: