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Defender incondicionalmente a vida do povo. Esse é o princípio da Campanha “Nós por Nós – Periferia Viva contra o coronavírus”, que além de fazer doações às famílias mais economicamente impactadas pela pandemia da Covid-19, leva o cuidado e semeia organização popular para essas populações mais vulnerabilizadas. A iniciativa tem abrangência nacional, e em Salvador, conta com a articulação do Levante Popular da Juventude e outros movimentos sociais rurais e urbanos do estado.

Em meio a toda a essa crise sanitária e humanitária assola o país com mais de 68 mil vidas perdidas, a cidade de Salvador registrou um crescimento de 1.200% da doença, segundo a Secretaria de Saúde do Estado. No dia 22 de abril, eram apenas 9 infectados/as com o novo Coronavírus na região, número que cresceu para 818 no primeiro dia de julho.  Um avanço significativo nos bairros mais pobres, onde trabalhadores/as informais, sem respaldo legal de garantia de direitos, continuam nas ruas para manter o sustento, a exemplo das localidades de Cajazeiras 4 e 5, onde o Levante Popular da Juventude atua.

Segundo Caroline Anice dos Santos, da coordenação municipal e estadual do movimento, a solidariedade entre os mais pobres é fundamental, porque é uma batalha contra um vírus desconhecido e que mexe com toda nossa dinâmica social, colocando em risco partes fundamentais da sociedade: “Nesse contexto, os mais pobres ficam numa situação de desigualdade ainda maior, porque de um lado têm dificuldades de fazer isolamento social devido a necessidade de trabalhar pra ter acesso ao básico como comida e produtos de higiene, e do outro, estão aglomerados constantemente nos bairros populares, que muitas vezes não proporcionam condições suficientes para o isolamento.”, afirma Caroline, e explica o panorama da campanha: “A perspectiva é chegar ao povo antes que a fome e a Covid cheguem, porque não tem condições de fazer isolamento sem comida na mesa e direitos sociais básicos. Disso, nasce a campanha e o seu intuito de prestar solidariedade, ajudar o povo num momento de dificuldade e criar laços de confiança com ele para tantas outras batalhas que enfrentamos cotidianamente.”, explica uma das coordenadoras do Levante de Salvador.

Ao passo que aumenta a vulnerabilidade das populações pobres, negras e periféricas, a CESE continua apostando em importantes iniciativas como essas, que fortalece o povo brasileiro e leva informações seguras e confiáveis em relação a pandemia e acesso a direitos. Jerônimo Bonfim, integrante do Levante, explica que essas orientações são extremamente importantes no império de Fake News (notícias mentirosas), sobretudo no contexto de pandemia, onde informação errada pode literalmente matar pessoas: “Nos EUA, por exemplo, o presidente Trump sugeriu que as pessoas bebessem detergente, e em algumas horas várias pessoas estavam sendo atendidas em prontos-socorros. Aqui no Brasil, já circularam receitas “mágicas” capazes de gerar imunidade e tudo isso coloca a população ainda mais em risco. Então, nossas ações de divulgação de informações corretas têm por objetivo tanto combater as informações falsas como reforçar as verdadeiras, que outros veículos também lançam, pra que na dúvida, a pessoa possa ter múltiplas fontes apontando o caminho correto.”, pondera o jovem que atua na célula de Cajazeiras.

A solidariedade ganha maior sentido quando é articulada à luta pela garantia de direitos básicos, por este motivo a iniciativa apoiada pela CESE – por meio da agência de cooperação holandesa Wilde Ganzen , além de exercer suas ações na “Conscientização do povo e batalha das ideias”, combatendo notícias e fazendo a disputa de ideias, e “Doações”, envolvendo arrecadação e distribuição para a população do bairro, também possui uma terceira linha de frente que é atuar com acesso a “Direitos”.  Desse modo, a campanha Periferia Viva, conta com um núcleo de Direitos Humanos (DH), uma rede psicossocial formada por advogados, assistentes sociais e psicólogas, formadas e estudantes da área, para fortalecer os dispositivos e ferramentas de assistência social e proteção a direitos.

Sobre essa aspecto, Elder Reis, da coordenação municipal e estadual do Levante Popular da Juventude, explica como ocorre essa ação: “No acompanhamento das famílias e as reuniões de organização da campanha nos territórios, junto ao acompanhamento do núcleo de DH, conseguimos construir uma atenção maior sobre os casos que expressem alguma demanda nesse âmbito e então construímos um processo de acompanhamento, com o objetivo de articulá-lo ao fortalecimento da rede pública de saúde e seguridade social. Atualmente, de todas as famílias acompanhadas pela campanha, surgiram algumas demandas relacionadas a esse acompanhamento psicossocial, desde a rede de acolhimento e cuidado que temos construído, até orientação no acesso ao auxílio emergencial, etc.”, exemplica Reis.

De acordo com o jovem, até o momento já foram distribuídas cerca de 24 toneladas de alimentos, envolvendo oito localidades de Salvador, com mais de 200 pessoas envolvidas na logística, arrecadação, higienização, distribuição etc. Para além disso, a campanha tem recebido doações online e construído outras ferramentas como “Mãos Solidárias” – iniciativa de distribuição de caixas entre amigos/as e militantes, da rede de entidades que compõem” Nós por nós – Periferia Viva”, que levam aos condomínios e prédios de Salvador e arrecadam alimentos e produtos de higiene e limpeza. “Temos o objetivo de apresentar a campanha a profissionais, estudantes, instituições e convidá-las a fortalecer esse imenso cordão de solidariedade e companheirismo, colocando tarefas práticas, mas de baixo risco a saúde pra que possa envolver mais pessoas e fazê-las evitando aglomerações.”, pondera Elder Reis.

Caroline explica a importância do apoio da CESE no início da campanha: “O apoio da CESE foi fundamental para darmos um pontapé melhor e organizado na campanha, fazer um mapeamento no território que queríamos atingir e ter noção de qual o número médio de famílias com que poderíamos lidar inicialmente. Ter o apoio financeiro, também nos permitiu construir outras relações com parceiros sinalizando a necessidade de envolvimento cada vez maior de pessoas na campanha (seja na divulgação, nas doações, nas equipes de trabalho, nas propostas de novas atividades) para que o impacto final possa ser ampliado e possamos cobrir um maior número de famílias no território de Cajazeiras.”, informa a militante.

Sendo ponte entre quem quer ajudar e quem precisa de ajuda, a juventude de Salvador traz uma dimensão ativa de solidariedade e segue com a campanha mais fortalecida e organizada para ações de enfrentamento à crise sanitária, econômica e política do nosso país. A CESE aposta em iniciativas como essas, projetos pequenos e potentes, que têm em seu horizonte o cuidado, a garantia de direitos e defesa da democracia.

A Campanha, apoiada pela CESE, conta também com a articulação e o apoio de outras entidades como ONG Casa do Sol – Cajazeiras, Movimento dos Pequenos Agricultores, APUB, Central Única dos Trabalhadores, Sindipetro, Igreja Batista Adonai  e ABJD – Associação Brasileira de Juristas pela Democracia.