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Após incêndio, comunidade camponesa no Tocantins luta para reorganizar roça comunitária

Por Rafael Oliveira

Mandioca, feijão, arroz, abóbora, milho, batata, quiabo, maxixe, cheiro verde…a lista de alimentos produzidos pela comunidade camponesa Tauá é grande e bastante diversificada. O trabalho no plantio e na colheita envolve todo mundo: jovens, mulheres e homens dividem as tarefas e colocam a mão na terra para garantir a fartura dentro de casa.

Localizada no município de Barra do Ouro, a cerca de 380km da capital Palmas, no Tocantins, a Comunidade Tauá é composta por 80 famílias. A cidade faz parte de uma região muito cobiçada pelo agronegócio, em especial para o plantio dos monocultivos de soja e eucalipto, que tomaram espaço da pecuária. Em 2018 as terras estavam em processo de regularização e criação de assentamento, mas os trabalhos foram paralisados pelo governo federal.

Mesmo com dificuldades para terem suas terras reconhecidas, há aproximadamente quatro anos parte do grupo resolveu se organizar para iniciar uma roça comunitária na qual prevaleceria o trabalho em mutirão. O plantio principal é o da mandioca, que após ser colhida é transformada em farinha de puba. “Nós usamos essa forma de organização para termos maior unidade entre as famílias envolvidas, que atualmente são mais ou menos 15, mas o objetivo é envolver as outras que ainda não participam”, calcula um dos líderes do grupo, Valdineis Pereira dos Santos.

A estratégia do grupo funcionou de forma efetiva e inspirou novas iniciativas. “Nós estávamos produzindo muitos alimentos em nossas terras e na roça comunitária”, recorda dona Silene Pereira da Silva, que vive na comunidade há 5 anos. “Mas faltava lugar para vendermos os nossos produtos”, complementa.

Junto com outras mulheres, dona Silene propôs à comunidade iniciar uma feira camponesa na cidade. Dito e feito: pediram autorização à Prefeitura e armaram suas barraquinhas na via principal de Barra do Ouro. “Começou aos pouquinhos, mas o pessoal da cidade percebeu que nossos alimentos são saudáveis e de qualidade. E outros companheiros também viram o sucesso e passaram a levar suas produções”, conta a camponesa.

Em meados de setembro de 2019, a Tauá sofreu um baque que repercute até hoje. Um grande incêndio destruiu cerca de 60% da roça comunitária e da casa onde as famílias produziam farinha em conjunto. A suspeita é de que tenha sido um fogo criminoso. A comunidade convive há anos com ataques violentos de grileiros produtores de soja na região que já queimaram e derrubaram casas das famílias, interditaram estradas de acesso e impediram o trânsito de transporte escolar para as crianças e adolescentes não irem à escola.

Além do prejuízo financeiro, o incêndio suspendeu a feira quinzenal na cidade. “Foi muito triste ver o fogo consumindo aquilo que plantamos e quase atingindo as casas de amigos. Teve gente que passou mais de cinco dias combatendo o fogo para ele não se alastrar mais ainda. Hoje meu sonho é voltar logo a trabalhar junto com meu marido e os vizinhos e reativar a nossa feira”, vislumbra a jovem Antônia Pereira da Silva, de 29 anos. Por meio de um projeto elaborado pela Comunidade Tauá, que contou com o apoio da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) e HEKS/EPER e a colaboração da Comissão Pastoral da Terra Araguaia -Tocantins, as famílias terão acesso a itens fundamentais para a reconstrução da casa de farinha e o replantio da roça, como sementes, ralador de mandioca, caixas d’água, telhas, madeiras, seladora para embalar a farinha entre outros materiais.

A casa de farinha já está sendo reestruturada para funcionar. O replantio das sementes de mandioca, por sua vez, acontecerá no decorrer do ano, de acordo com os períodos de chuva e de seca que são característicos da região. “Isso tudo é uma bênção, é uma porta que Deus está abrindo para nós. É uma esperança pra gente ter uma casa de farinha para trabalhar e ter o dinheirinho da gente. Vai ser bom demais, vai ser uma delícia”, afirma, aos risos, dona Silene.

Por Rafael Oliveira

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Websérie (R)Existências no Cerrado

O Cerrado é um dos maiores e mais importantes biomas brasileiros, com uma biodiversidade que ocupa 23% do território nacional e sustenta diversas comunidades indígenas e quilombolas. Esse bioma sofre com o desmatamento provocado, principalmente, pelo setor agropecuário e com o avanço dos focos de incêndio. Em reportagem divulgada pelo Jornal Brasil de Fato, em 2 agosto de 2020, o bioma contabilizou 12 mil focos de fogo.

Nos próximos meses, a CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço, com o apoio de HEKS EPER, convida você para conhecer histórias de lutas e resistências de pessoas que vivem nos #cerrados do Brasil. Semanalmente, por meio dos canais de comunicação da CESE, a websérie contará histórias de comunidades e povos que tiveram parte de suas vidas destruídas pelo fogo em seus territórios, nas queimadas de 2019, mas que encontraram forças para reerguer suas casas, plantar novamente suas roças e reorganizar seu trabalho e atividades do dia-a-dia.

Período de veiculação: setembro e outubro de 2020 nos canais de comunicação da CESE e da
Campanha Nacional em Defesa do Cerrado 

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